sexta-feira, 13 de julho de 2007

Vila das Aves - Entre Douro e Minho

O concelho de Santo Tirso, nomeadamente a freguesia de Vila das Aves da qual sou natural, vive numa constante indefinição provincial entre Douro Litoral e Minho.
Como é do conhecimento geral, o concelho de Santo Tirso é parte integrante do distrito do Porto que, por seu turno, é a capital da província Douro Litoral. Por tal, é inegável que pertencemos ao Douro. Aliás muitas das nossas burocracias são tratadas no Porto. Contudo (e focar-me-ei especificamente na freguesia de Vila das Aves), tudo o que é cultura, tradição e costumes vai de encontro ao que se vive no Minho.

Primeiramente, gostaria de referir que, apesar da curta distância que separa Vila das Aves do Porto, esta é a freguesia do concelho de Santo Tirso que mais afastada fica da capital do Douro. Todavia, a distância que separa Vila das Aves do Porto e de Braga é praticamente a mesma. Já cidades minhotas como Guimarães e Famalicão ficam muito próximas de cá. Vila das Aves faz fronteira unicamente com uma freguesia do concelho de Santo Tirso. De resto, estamos envolvidos por freguesias minhotas, nomeadamente uma freguesia do concelho de Guimarães (Lordelo) e duas do concelho de Famalicão (Riba d' Ave e Bairro). Não obstante, muitas vezes associarem Vila das Aves ao concelho de Famalicão. E, devo confessar, estariamos mais bem servidos!

Para além da vertente proximidade geográfica, há a salientar que a nível de tradição e cultura, Vila das Aves é tipicamente minhota. No que respeita a religiosidade, esta terra (e o concelho de Santo Tirso) pertentem à arquidiocese de Braga. Tal como em Braga (embora, obviamente, não de forma tão sumptuosa e efervescente), também em Vila das Aves as festas religiosasa são uma constante. Na Páscoa com o compasso pascal em nossas casas entoando canticos religiosos. As missas pascais são também permanentes, assim como o cortejo pascal que conta com todos os membros dos compassos e ainda algumas entidades da vila.
Aquando da comemoração das festas de S. Miguel (santo padroeiro da vila) a tradicional procissão com todos os andores de santos são uma marca desta freguesia. De acrescentar ainda a procissão de velas em Maio.

No que a mentalidades diz respeito, denota-se uma maior aproximação ao tradicionalismo e conservadorismo do Minho, do que a uma vertente mais progressista e futurista que caracteriza o Douro, nomedamente o Porto.
E, dado que Santo Tirso nada tem para oferecer aos seus habitantes a nível de cultura e lazer, muitos recorrem a cidades próximas como Guimarães e Famalicão. Também no que concerne a emprego muitas são as pessoas de cá que trabalham em terras minhotas.
Quanto à mobilização de estudantes do ensino superior, embora muitos se encontrem em faculdades do Porto, a verdade é que a Universidade do Minho contou e conta com muitos avenses. E denota-se (pelo menos pelas pessoas com quem já contrastei) que há um maior apego destes indivíduos à Universidade do Minho e às cidades de Guimarães e Braga, do que aqueles que estudam no Porto.
Posso ainda referir que até no que respeita à rede fixa de telefones (com o indicativo 252 de Famalicão) é também algo de pertença ao Minho.
Já para não falar no Desportivo das Aves tantas vezes referido pela comunicação social como o "clube minhoto".

Vila das Aves (e o concelho de Santo Tirso) permenece assim numa fronteira entre o Douro Litoral e o Minho.

15 comentários:

Tiago Laranjeiro disse...

Acho difícil estabelecer uma fronteira cultural do Minho... Onde é que termina?

Concelhos como Santo Tirso, Póvoa de Varzim e Vila do Conde (pelo menos a Norte do Ave) são culturalmente minhotos, bastando para isso ver o seu folclore.

Por outro lado, tirando o "desenvolvimento" que a região metropolitana do Porto tem sofrido, é difícil separar culturalmente o Douro Litoral do Minho, embora seja possível.

Tiago Laranjeiro disse...

Lembro apenas que nós, em Guimarães, estivemos a um curtíssimo passo de nos termos tornado parte do distrito do Porto na década de 1880.

Anónimo disse...

Assisti nos anos 90 a um debate sobre a possibilidade das Aves serem concelho em Riba d´Ave, e foi bastante quente. Como é que estão
as "coisas"?

Anónimo disse...

Falta uma virgula que faz toda a diferença. O debate foi na sede de junta de riba d´ave.

Helena Antunes disse...

Caro José,
Sinceramente não me recordo de ter ouvido falar da possibilidade de Vila das Aves integrar o concelho de Riba d'Ave. Aliás Riba d'Ave é uma freguesia do concelho de Famalicão, não é sede de concelho.

Por isso, apenas continuamos e penso que continuaremos como uma grande vila!

Cumprimentos

Anónimo disse...

Helena vou explicar novamente, não me fiz entender.

Nos anos noventa estive numa reunião na sede de junta de Riba d´ave, com o presidente de junta da mesma e com o presidente de junta de Vila das Aves e também esteve Capela Dias do PCP vereador da CDU Guimarães.

Discutia-se a possibilidade da criação do Concelho das Aves juntamente com Riba d ´ave não a integração em riba d ´ave como é lógico.


O debate foi quente porque uma fracção de comunistas de Riba d´ave não queriam sair de Famalição.

A junta das Aves estava muito empenhada na sua autonomia.

Lembro-me agora, foi pouco antes da criação do concelho de vizela para aí 94/95/96.

Parece-me então que a questão "morreu"!

Helena Antunes disse...

Sim recordo-me, de facto, de há uns anos se falar da emancipação de Vila das Aves a concelho. Era uma vontade do presidente da Junta da altura. Mas Vila das Aves não reunia muitos dos requisitos necessários para se tornar concelho. E depois não seria fácil a integração de freguesias vizinhas. Não seria um processo fácil. E Santo Tirso não estaria disposto a perder a sua maior terra (a seguir à própria cidade de Santo Tirso). Veja-se a polémica que perdurou à conta da perda da Trofa aquando da formação de concelho.

Mas desde há 6 anos, com a chegada do novo presidente de Junta de Vila das Aves, a ideia "morreu" completamente. Não foi intenção dele insistir nessa "história" de tornar Aves concelho, havendo outras prioridades.

Por isso, penso que a curto/médio prazo essa ideia não será concretizável.

INFORMANIACA disse...

Apresentação do livro "Cabo do Mundo"

No próximo dia 20 de Julho, na Biblioteca Municipal de Santo Tirso será apresentado pelo escritor e poeta Albino Santos, às 21h30, o livro “Cabo do Mundo” da autoria de Laura Costa.

Abraço,
Laura Costa

Anónimo disse...

"é difícil separar culturalmente o Douro Litoral do Minho", diz ergolas

muito bem

mas mais difícil é separar qualquer coisa que diga Ave(s), referente ao grande rio do Vale do mesmo nome, desde a serra da Cabreira até Vila do Conde, que não diga Entre-Douro e Minho e mais estrictamente Minho, por excelência!

amélie

Anónimo disse...

e grande abraço à escritora da posta, se é avense, pelo gosto que faço dessa Vila, que sempre tomei pelo coração do Minho, de quando ia de Fafe à Trofa, ainda menina, até me levarem p'ra longe dois marmanjos dessa, agora talvez cidade, então solamente vila...

amélie

Helena Antunes disse...

Vila das Aves e todo o concelho de Santo Tirso não é indiscutivelmente do Minho, como faz crer. Se pertencemos ao distrito do Porto, por mais pequena que seja, alguma ligação ao Douro Litoral nós temos.

Também lhe esclareço que Vila das Aves continua, desde há 52 anos, a ser vila. Não somos cidade.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Mas sem dúvida, alguma coisa nos liga ao Douro, desde logo a Linha de Guimarães e, obviamente, as estradas e a auto-estrada, além daquela parcela de identidade e beleza que a província duriense herda do Minho...

Lygi@ disse...

Um post bem interessante, ainda mais para quem não conhece a fundo as duas realidades. PARABENS à autora!

Anónimo disse...

Antes de mais os meus parabéns à autora do post.

Realmente é impossível “separar” de Vila das Aves, quer do Minho quer do Douro Litoral. A vila maior do Concelho de Santo Tirso está “administrativamente” ligada ao Douro: o Porto é o Distrito, no Porto se apresentam as candidaturas à Universidade, no Porto estão os hospitais considerados da “área de residência”etc.
Em relação ao Minho existe um firme vínculo cultural: a religiosidade, as tradições, a gastronomia etc.
Ou seja, separar a Vila das Aves do Minho, ou do Douro, seria deixa-la órfã de mãe, ou de pai...

Anónimo disse...

Gostei da frase:
"Não obstante, muitas vezes associarem Vila das Aves ao concelho de Famalicão. E, devo confessar, estariamos mais bem servidos!"
Cumprimentos.
ecfamalic