A região Norte sempre teve uma forte ligação ao transporte ferroviário. De facto, até ao início dos anos 90 as principais cidades da região estavam ligadas entre si, com duas ligações a Espanha e uma ligação a Sul. Porto, Braga, Vila Real, Bragança, Mirandela, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Famalicão, Guimarães, Fafe, etc., estavam ligadas ao resto do mundo via caminho de ferro.
Vinte anos mais tarde, algumas destas cidades foram riscadas do mapa ferroviário em prol do desenvolvimento económico e do transporte rodoviário. Outras mantém-se, no entanto cada vez mais "distantes" devido ao reduzido investimento na área. A rede ferroviária nortenha, basicamente, está reduzida a quatro linhas e respectivos ramais:
a) Linha do Minho: faz a ligação entre o Porto e Valença (outora a Monção) e tem dois ramais: Braga e Guimarães (amputada entre Guimarães e Fafe e Trofa e Maia). Actualmente na linha do Minho circulam todos os tipos de serviços da CP: Alfa Pendular, Intercidades, Urbano, Internacional, Interregional, Regional. Os três últimos apresentam serviços péssimos, os três primeiros apresentam atrasos constantes.
b) Linha do Douro: Ligação Porto - Pocinho (outrora a Salamanca) e tem três ramais: Tâmega (amputado entre Amarante e Arco de Baúlhe), Corgo (amputado entre Vila Real e Chaves) e Tua (amputado entre Mirandela e Bragança e prestes a desaparecer na sua totalidade). Para além do comboio histórico, circulam nesta linha e ramais os Regionais e Interregionais do Douro e os Urbanos de Caíde.
c-) Linha do Vouga: Ligação Espinho Aveiro. Trata-se de uma linha altamente obsoleta onde existem pontos em que o comboio pára nas passagens de nível. Esta é uma linha que atravessa concelhos como Santa Maria da Feira, São João da Madeira, ou Oliveira de Azeméis, com milhares de habitantes.
d-) Linha do Norte: Porto-Lisboa. É a ligação ao sul onde o serviço mais barato, o Intercidades, tem enormes variações na pontualidade, podendo em dias normais os atrasos rondar uma hora. Mesmo o serviço Alfa Pendular não apresenta uma total fiabilidade, dadas as más condições da linha em vários troços.
A acrescentar a estes problemas, o avultado investimento na ferrovia com a Rede de Alta de Velocidade, que não estando em causa a sua futura mais-valia num contexto nacional e europeu, irá numa primeira fase ocupar troços das actuais linhas, podendo "mutilar" alguns dos serviços actuais e piorar outros ainda mais.
Com este pequeno resumo do estado actual da ferrovia no Norte do país, fica patente a necessidade imperiosa de mais e melhores ligações entre as suas populações, e as vantagens que trariam para toda a economia. Numa época de dificuldade económica e de preocupação ambiental, com o estado de degradação dos serviços ferroviários, torna-se cada vez mais urgente a reunião dos agentes políticos e económicos no sentido de apostar no tranporte público e criar um serviço ferroviário que vá de encontro às reais necessidades de mobilidade do cidadão.
Neste cenário, surgiu em meados de 2008 a Comboios XXI. Trata-se de uma Associação pioneira em Portugal que tem como objectivo a promoção da melhoria do serviço ferroviário. A Comboios XXI surgiu no seguimento do excelente trabalho cívico levado a cabo por um grupo alargado de utentes na Linha Braga-Porto (com muito bons resultados!). Apesar das duas forças se terem centrado nesta Linha no período inicial, esta Associação foi constituída com âmbito nacional.
A Comboios XXI pretende ser uma plataforma aglutinadora de todos os utentes e os defensores da ferrovia. Actualmente além do núcleo de Braga, existe já, o núcleo da linha do Minho (Nine-Valença) e está na calha a criação do núcleo de Guimarães.
Os resultados de inúmeras iniciativas, reuniões e audiências (CP, Refer, Assembleia da Républica, orgãos do poder local, etc..) são prometedores! No entanto, estamos a falar duma associação sem fins lucrativos composta por gente jovem e motivada, mas que precisa de apoio e, fundamentalmente, de mais força para vencer a tremenda inércia dos orgãos envolvidos. A Comboios XXI espera por mais sócios, e anseia pela criação de mais núcleos de forma a criar uma verdadeira massa critica junto das autoridades quem detêm o poder de decisão. Junte-se a esta causa!